sexta-feira, 23 de abril de 2010

Entre sonhos e realidades



Foi assim, ali mesmo, sentada literalmente no chão da escola que a escritora Potiguar, Rosângela Trajano, falou sobre o fantástico mundo da literatura infantil. Falava mansinho,olho no olho,compartilhando descobertas com todas aquelas crianças de uma escola pública de Natal. Falou das contribuições de Cervantes, das suas quatro horas de leituras diária, desvendou os segredos de se escrever um livro. Falou ainda da grande felicidade de escrever para as crianças e da alegria de ve-las lendo, de ve-las descobrindo o mundo da leitura. As crianças vibravam a cada nova descoberta, dialogavam de pertinho com a escritora que mais parecia uma menina no meio das outras.A cada 15 minutos uma nova turma entrava para compartilhar daquele momento quase mágico. E ela, incansável, recomeçava com todo encantamento, como da primeira vez.


 Rosangêla Trajano por ela mesma.
"Eu sou uma curiosa, metida a besta e inteligente. Fiz alguns vestibulares, fui reprovada em alguns e aprovada em outros. Devia ter concluído o curso de Sistemas de Informação, mas abandonei. Larguei esse curso para fazer Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Publiquei meu primeiro livro intitulado Carrossel de Poesias (Poesias para crianças), no dia 01 de dezembro de 1999. Numa noite belíssima, na Capitania das Artes, rodeada de crianças, amigos e familiares. Um coquetel maravilhoso, meus olhos brilhavam mais que todas as estrelas no céu e as pernas tremiam. Esse livro foi um presente às crianças de todo o Universo, porque foi através delas que encontrei a esperança para lutar pela realização dos meus sonhos.
Meu segundo livro intitulado Giges e o anel, também foi publicado no mês de dezembro no ano de 2003, na Bueno Livraria, localizada no Natal Shopping, em Natal-RN.
De lá para cá não parei mais de publicar livros. Acho que já são uns trinta e poucos.
Escrevo para alguns periódicos locais, sou licenciada em filosofia, mestra em estudos da linguagem pela UFRN, professora de filosofia, inglês e produção textual além de pesquisadora na área de filosofia para crianças. Gosto de programação de computadores e matemática. Além do mais adoro viver!
Quando quero um refúgio vou à praia de Jacumã, lugar de uma rara tranquilidade. Eis-me, um ser humano como outro qualquer, entre qualidades e defeitos, sonhos e realidade."

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O que os olhos não vêem

Havia uma vez um reino muito distante,
que vivia em seu palácio
com toda a corte reinante.
Reinar pra ele era fácil,
ele gostava bastante.


Mas um dia, coisa estranha!
Como foi que aconteceu?
Com tristeza do seu povo
nosso rei adoeceu.
De uma doença esquisita,
toda gente, muito aflita,
de repente percebeu...

Pessoas grandes e fortes
o rei enxergava bem.
Mas se fossem pequeninas,
e se falassem baixinho,
o rei não via ninguém.

Por isso, seus funcionários
tinham de ser escolhidos
entre os grandes e falantes,
sempre muito bem nutridos.
Que tivessem muita força,
e que fossem bem nascidos.
E assim, quem fosse pequeno,
da voz fraca, mal vestido,
não conseguia ser visto.
E nunca, nunca era ouvido.

O rei não fazia nada
contra tal situação;
pois nem mesmo acreditava
nessa modificação.
E se não via os pequenos
e sua voz não escutava,
por mais que eles reclamassem
o rei nem mesmo notava.

E o pior é que a doença
num instante se espalhou.
Quem vivia junto ao rei
logo a doença pegou.
E os ministros e os soldados,
funcionários e agregados,
toda essa gente cegou.

De uma cegueira terrível,
que até parecia incrível
de um vivente acreditar,
que os mesmos olhos que viam
pessoas grandes e fortes,
as pessoas pequeninas
não podiam enxergar.

E se, no meio do povo,
nascia algum grandalhão,
era logo convidado
para ser o assistente
de algum grande figurão.
Ou senão, pra ter patente
de tenente ou capitão.
E logo que ele chegava,
no palácio se instalava;
e a doença, bem depressa,
no tal grandalhão pegava.

Todas aquelas pessoas,
com quem ele convivia,
que ele tão bem enxergava,
cuja voz tão bem ouvia,
como num encantamento,
ele agora não tomava
o menor conhecimento...

Seria até engraçado
se não fosse muito triste;
como tanta coisa estranha
que por esse mundo existe.

E o povo foi desprezado,
pouco a pouco, lentamente.
Enquanto que próprio rei
vivia muito contente;
pois o que os olhos não vêem,
nosso coração não sente.

E o povo foi percebendo
que estava sendo esquecido;
que trabalhava bastante,
mas que nunca era atendido;
que por mais que se esforçasse
não era reconhecido.

Cada pessoa do povo
foi chegando á convicção,
que eles mesmos é que tinham
que encontrar a solução
pra terminar a tragédia.
Pois quem monta na garupa
não pega nunca na rédea!

Eles então se juntaram,
Discutiram, pelejaram,
E chegaram à conclusão
Que, se a voz de um era fraca,
Juntando as vozes de todos
Mais parecia um trovão.

E se todos, tão pequenos,
Fizessem pernas de pau,
Então ficariam grandes,
E no palácio real
Seriam logo avistados,
Ouviriam os seus brados,
Seria como um sinal.

E todos juntos, unidos,
fazendo muito alarido
seguiram pra capital.
Agora, todos bem altos
nas suas pernas de pau.
Enquanto isso, nosso rei
continuava contente.
Pois o que os olhos não vêem
nosso coração não sente...

Mas de repente, que coisa!
Que ruído tão possante!
Uma voz tão alta assim
só pode ser um gigante!
- Vamos olhar na muralha.
- Ai, São Sinfrônio, me valha
neste momento terrível!
Que coisa tão grande é esta
que parece uma floresta?
Mas que multidão incrível!

E os barões e os cavaleiros,
ministros e camareiros,
damas, valetes e o rei
tremiam como geléia,
daquela grande assembléia,
como eu nunca imaginei!

E os grandões, antes tão fortes,
que pareciam suportes
da própria casa real;
agora tinham xiliques
e cheios de tremeliques
fugiam da capital.

O povo estava espantado
pois nunca tinha pensado
em causar tal confusão,
só queriam ser ouvidos,
ser vistos e recebidos
sem maior complicação.

E agora os nobres fugiam,
apavorados corriam
de medo daquela gente.
E o rei corria na frente,
dizendo que desistia
de seus poderes reais.
Se governar era aquilo
ele não queria mais!

Eu vou parar por aqui
a história a que estou contando.
O que se seguiu depois
cada um vá inventando.
Se apareceu novo rei
ou se o povo está mandando,
na verdade não faz mal.
Que todos naquele reino
guardam muito bem guardadas
as suas pernas de pau.

Pois temem que seu governo
possa cegar de repente.
E eles sabem muito bem
que quando os olhos não vêem
nosso coração não sente.



Ruth Rocha 

*Qualquer semelhança e pura coincidência.