sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nos meus sapatos de educador

                                                                                                                                  Publicado no diário de Natal , em 03/12/2010.
Frederico Horie Silva
 Estudei até a antiga oitava série em escola pública. Lá fui feliz. Fiz amigos, me apaixonei pela primeira vez e tive minha primeira desilusão amorosa. Porém, neste mesmo local, enfrentei períodos de greve, falta de professores, feriados imprensados e baixo aprendizado dos conteúdos específicos. No Ensino Médio fui transferido para a rede privada para, nas palavras da minha mãe, aprender alguma coisa, para ser alguém na vida. Essa foi a minha primeira despedida da escola pública. Hoje venho contar-lhes a segunda. 
Depois de um Ensino Médio difícil, com dificuldade para acompanhar os outros alunos, consegui passar no vestibular de uma excelente universidade. Lá me apaixonei pela Educação. Estudei e trabalhei praticamente todos os anos com esta temática. Saí de lá formado, esperançoso e com um sonho modesto: ser professor de escola pública.
 Há pouco mais de um ano, realizei este sonho. Entrei no sistema público de ensino de um dos municípios da grande Natal, com a certeza de que poderia fazer a diferença, de que iria desenvolver um bom trabalho, com uma metodologia inovadora que respeitasse os diferentes ritmos de aprendizagem. Tinha uma meta ousada: transformar a escola em um ambiente propício para o desenvolvimento intelectual e cultural dos alunos. Nada me deixaria mais realizado.
Porém, eu estava enganado. Estamos no final do ano e não fui o professor que quis ser, não consegui colocar em prática as imaginadas inovações e tampouco respeitei os ritmos de aprendizagem dos meus alunos. Nada me deixou mais decepcionado. Para que o leitor compreenda porque me despeço da escola pública, peço que calce os meus sapatos de educador e caminhe comigo pela escola.
Estamos no início de dezembro, e não há uma só sala de aula em que pelo menos um aluno não tenha evadido - abandonado a escola - possivelmente para sempre (!). Quem é professor sabe como dói perder um aluno, pois sabe como o mundo é cruel e competitivo para quem estuda e ainda mais para quem não o faz. Em um cenário como este, o que eu, a escola e os gestores públicos fizemos a respeito? Nada. Se é verdade que o aluno abandonou a escola, também é verdade que a escola o abandonou.
Contudo, a evasão não é só discente, mas docente.  De uma equipe que deveria ser de oito professores, apenas quatro estão presentes, dois faltaram sem justificativa e os outros dois nunca foram enviados pela Secretaria de Educação do município. Algumas turmas passaram o ano todo sem ter uma aula sequer de Matemática.          
O trabalho educativo é coletivo e solidário. O que acontece em uma sala de aula é refletido em todas as outras. Uma escola só tem condições de funcionar bem se houver a integração de um conjunto de fatores, que vão das condições de trabalho do professor à gestão escolar competente e, definitivamente, dependem de um governo que respeite o direito do povo a uma educação pública de qualidade.
Ainda em nossa caminhada, convido-os para a sala dos professores. Lá somos surpreendidos pelo aviso de que não haverá aula. Esta situação é rotineira, por variadas razões, mas nenhuma que justifique o descaso e a negação ao conhecimento que se processa em ações e inações, mentiras e omissões realizadas dia a dia em uma escola que perdeu sua função de existir. Comecei o ano acreditando que seria um bom professor, mas a verdade é que vou terminá-lo sem conseguir ao menos cumprir o calendário escolar. 
Por não me sentir útil à escola pública, me retiro. Vou dar mais ênfase aos estudos, à pesquisa. Preciso entender como funcionam as engrenagens que tornam a escola pública um ambiente inóspito e prejudicial para alunos e professores. Perdi a inocência, mas não a certeza de que a mudança é necessária e possível. Hoje descalço os meus sapatos de educador, com a certeza de que voltarei quando tiver as condições para fazer a diferença. Despeço-me com saudade daquilo que nunca tive, mas continuarei lutando para que um dia alguém possa ter. Uma escola pública de qualidade.

Frederico Horie Silva, Educador e Biólogo, escreve a convite do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), que publica artigos neste espaço às sextas-feiras.



sábado, 6 de novembro de 2010

Calem a boca, nordestinos!

Por José Barbosa Junior 




A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.
Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra… outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.
Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”.
Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do nosso país.
E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!
Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial  Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!
E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…
Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!
Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!
Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Redoma



Como poderia viver sem  arranhões, sem sentir o frio que dá na barriga quando bate o medo, sem sentir a areia fugindo por entre os dedos? A redoma quebrou paulatinamente e cada caco de vidro parecia uma potente furadeira que barulhenta e feroz, dilacerava as entranhas. Quisera que o cardiologista pudesse cura-la, pudesse minimizar tamanha dor.Seria possível reconhece-la? seria possível senti-la mais intensamente? seria possível não senti-la? Não senti-la seria renegar a própria vida. 

Ah! a vida, tão bela e graciosa, vida, tão cheia de vida  que nem cabia no peito, nem pensava que um dia o mundo iria desabar inteiro na sua cabeça. Quão ingênua fora ao acreditar que a redoma a protegeria das conseqüências do amor. Perguntava-se  insistentemente sobre as rachaduras que geraram a quebra, como resposta veio apenas o silêncio do indizível.    



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Assine o Manifesto por um Rio Grande do Norte de Leitores!

Caros (as) amigos (as) do RN, do Brasil e de outros países, clique sobre a imagem abaixo:
 Seja mais um(a) a participar dessa mobilização em defesa de um Rio Grande do Norte de Leitores .Conheça o Manifesto, assine , disponibilize o banner em seu site, blog ou portal. Recolha adesões de quem não tem acesso à internet e seja voluntário passando esses dados para o computador.
Jornalistas, vocês também poderão continuar ajudando com notas e matérias em seus veículos e colunas.
Precisamos que o (a) futuro (a) Governador (a) do Rio Grande do Norte perceba a mobilização da sociedade em favor da leitura. Dos três candidatos posicionados nas primeiras colocações, de acordo com as pesquisas, dois (Senadora Rosalba Ciarlini e Governador Iberê Ferreira) não compareceram ao lançamento do Manifesto e também ainda não procuraram a nossa organização para assinarem o Termo de Adesão, comprometendo-se com o documento.
A Educação do Rio Grande do Norte agradece a sua colaboração.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

CONHECENDO AS CIDADES DO RIO GRANDE DO NORTE EM UM CONTO




Cumpade PEDRO VELHO me diga como você anda? Inda ta trabaiando muito? E como anda cumade NÍSIA FLORESTA? Caba veio tou puraqui meio perdido, é uma histórameia adoidaiada mai se o senhor me ouçar desbatarei sem arrudei. Eu vinhe pra essas bandas buscar um TOURO chamado GUAMARÉ, pra levar lá pru ALTO DO RODRIGUES. Meu patrão seu ANTÔNIO MARTINS comprou o bichinho a seu MESSIASTARGINO, meu patrão é abastado, é um homem bom e influente, foi amigo de infânça de RUY BARBOSA. Ele vive muito bem, agora eu cumpade, é que ando com uma maruzia e uma azalação da mulinga.

Cumpade ultimamente eu ando meio os imboléus, já fiz inté prumessa e já rezei pra SÃO PEDROSÃO FERNANDO e inté para SÃO VICENTE, pru mode eles falar com meu BOM JESUS pra eu ter BOA SAÚDE. Asto dia eu fui ao DOUTOR SEVERIANO e ele me arreceitou um lambedor de JAÇANÃ. Inda disse mai, que era bom pra eu viajar, ir pra outros lugares, ele inté me idicou BARCELONA, MACAU, EQUADOR ou se não quisesse sair do Brasil fosse pra PORTALEGRE ou pru ESPÍRITO SANTO. Sabe o que eu fiz? Eu fui foi pro PARANÁ, mas pense cumpade cumaé pequeno, é um PARAZINHO!!. Mai purlá tem um TABOLEIRO GRANDE com uma AREIA BRANCA, bem pru lado tem uma SERRA NEGRA DO NORTE, na verdade é uma SERRINHA!, Só que lá enriba cumpade tem uma PEDRA GRANDE e é umaPEDRA PRETA e purriba dela tem uma NOVA CRUZ feita de ANGICOS. Mai lá cumpade é tão quente, tão quente que parece o ceará, um CEARÁ-MIRIM, claro.

Cumpade prosiando e atencionando as coisas purcá mai que BAÍA FORMOSA, é muita bunita. Me alembrei de seu LUIZ GOMES, ele inda mora pru trai daquelas MONTANHAS? E seu PEDRO AVELINO, ainda é morador de seu AFONSO BEZERRASão um povo muito prestativo. Cumpade! Tou me alembrando que tenho uma conta a acertar,é umas PENDÊNCIAS com seu SEVERIANO MELOtou só esperano baixar aIPUEIRA pra  ir cobrar meus GALINHOS que ele trouxe lá da SERRINHA DOS PINTOSITAJÁ na hora de a gente acabar com esse quelelé esse EXTREMOZesses CARNAUBAIS de desavenças,acabar de vez com essa picuinha.

Cumpade, cortei esse chãozão de uma ponta a outra, em todo canto ta uma caristia danada, as coisas tá pelo oio da cara. Cumpade vou te dizer uma sabença, do jeito que a coisa tá rumando só vai piorar, prumode de que ultimamente passei uma fome danada. O senhor me imagina que nessa sumana só comie uns peixinhos, Uns ACARI pequeno que parecia um BODÓPATU ver JAPI di inté a SANTO ANTÔNIO e a SÃO MIGUEL uma boa forragem pru bucho, pidi com tanta esperança que chega fechei os oios e imaginei o rango, e falei arto e GROSSOS, SÃO MIGUEL DO GOSTOSO!!!!!Mudando o prosiado o cumpade se alembra da fazenda siridó? Pois bem, tá bunita,lá fizero CURRAIS NOVOS, só de PAU DOS FERROS duro feito ASSÚ e de CARNAÚBA DOS DANTAS, lá daquela LAGOA DANTA. Cumpade foi trabaiada danada os morão foram tudim cortado pur seu FRANCISCO DANTAS e o empregado dele seu JOSÉ DA PENHA.

Cumpade ficou de primera, lá tem o mai bunito JARDIM DO SERIDÓ. O padroeiro da fazenda é um santo de casa, é SÃO JOSÉ DO SERIDÓ, e a padroeira não pudia ser de outro lugar e esculhero SANTANA DO SERIDÓ, mai dizem as más línguas, Cá pra nós,que ela num tá fazendo nenhum milagre não, tão inté quereno jogá lá no mato. Já tem inté gente chamando, ver se pode, de SANTANA DO MATO. Desse jeito tá rim já pensou cumpade, se o padroeiro não fizer milagre, e quiserem jogalo naquele CAMPO REDONDO, imagine só cumpade aquele CAMPO GRANDE, vão bem apilidar de SÃO JOSÉ DE CAMPESTRE. Magina só? Mai cumpade cum toda buniteza o lugar tá sem um pé de vida, logo adispois que seu BENTO FERNANDES bateu as botas, os filhos RAFAEL FERNANDESRODOLFO FERNANDES quisero vender as terras, inda chegaro a vender uma parte para ALMINO AFONSO, que fez um SÍTIO NOVO, que vai do RIACHO DA CRUZ inté o MONTE DAS GAMELEIRAS. Cumpade num vendero todinha pruque seu MARCELINO VIEIRA e seu FERNANDO PEDROSA cuma era os moradores mai an tigo se intrumeteram. Tavam brabos e eles diziam: o resto vocês não vendem, o pai de vocês era um santo já esqueceram? Vocês deveriam era fazer uma igreja para o pai de vocês, pra noise as terras inda são daquele santo. E a SERRA DE SÃO BENTO ninguém toca, e do jeito que eu tou me agarru cum cobra piso inté em cascavel e CERRO CORÁ.Cumpade a confusão foi grande demai, era tanta da fofoqueira na fazenda, pisanopurriba das plantas e se rindo, que parecia um JARDIM DE PIRANHAS. O qui qui foi maior quandoFRUTUOSO GOMES falou que as TIMBAÚBA DOS BATISTAS tava sendo irrigado do OLHO DÁGUA DOS BORGES. Minina cumpade, quando MARTINS oiçou foi logo dizeno: quero ver irrigar lá do meuMONTE ALEGRE, pruque lá é uma LAGOA SALGADA! Nisso cumpade, chega RAFAEL GODEIROtrazendo o CORONEL EZEQUIEL e o TENENTE ANANIAS. Cumpade quando os homi chegaru, inté aCRUZETA, feita de OURO BRANCO, fincada na entrada da fazenda, num pé de BARAÚNA, ficou semENCANTO. O estrelado foi lo go falando: e essas mueres VIÇOSA não têm nada que VENHA VER aqui. Nesse momento cumpade, ele espiou pra eu, que me tremie todinho, logo ele cumpade que me achava caipira e só me chamava de CAIÇARA DO NORTE. Ai Ele preguntou o que é que eu fazia ali. A voz ficou entalada mai eu resmunguei tempodispois: vim rezar pra SÃO BENTO DO NORTE. Ele chega muchou e com um olhar macriado disse: aqui só tem rezatório só se for pra SÃO BENTO DO TRAIRI, vá simbora percurar outro santo. Arribe para o oeste lá tem muitos, talvez você encontre um SÃO FRANCISCO DO OESTE. Não precisou nem terminar a pronunciada, sai em t oda disparada, parecia inté que agora eu nadava e vuava que nem um CAIÇARA DO RIO DOS VENTOS.Cumpade! Cumpade! Fui muito azilado, na carreira bati num palanque que tava o GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO, o SENADOR ELOI DE SOUSA e mesmo na horinha que o SENADOR GEORGINO AVELINO tava se pronunciando. Quando os povos me viro nacarreira em direção ao palanque, pensava que eu ia matar os chefes políticos. Nisso o CORONEL JOÃO PESSOA me viu, no aperreio que eu tava eu nem pensava,daquele jeito eu merguiaria inté no RIO DO FOGO. Cumpade quando eu espio pru lado o MAJOR SALES e o TENENTE LAURENTINO já vinha nos meus carcanhar pega num pega.
Ai foi que eu corri, inda mai com o tiro zunindo no peduvido, pulei por riba de uns PILÕES e sai com a gota serena. Escutei na carreira quando dona LUCRÉCIA disse, é guerra, FELIPE GUERRA! Felipe venha pra casa meu fio, SÃO JOÃO DO SABUGÍ pruteja meu fio. Não parei cumpade de correr, se eles me pegam eles iam JUNDIÁ de eu. Dei um pitú nos homi e sai meio escundido pru trai de uma LAJES PINTADA, peguei um RIACHUELO e sai sem deixar ra sto. Vie de longe uma VÁRZEA e ai eu fui em busca doPORTO DO MANGUE que era menos perigoso. Quando cheguei purlá só tinha PASSAGEM na canoaTIBAU DO SUL. A TIBAU já havia saído, elas chegam em PARELHAS mas uma sai meia hora antes. Ai cumpade eu pensei desse jeito num dá, sou nortista, no sul num vou agüentar.
Então cumpade eu sai por um BREJINHO e vi um filete dágua conhecido, era do RIACHO DE SANTANAuma ÁGUA NOVA e tumei logo umas goipada. Adispois cheguei a uma BAIXA VERDE e vi muita arvures agrandaada fui andando pra lá, cumpade pense num lugar bem sombraiado paricia um JARDIM DE ANGICOS. Pensei ter escapado dos homi mai a armadia foi pior. Sai bem no meio de uma aldea dos índiosJANDUISMOSSORÓ, continuei andano como se num tivesse percebido nada. Foi quando ouvi o pajéMAXARANGUAPE dizer pra dois índios assim: IPANGUAÇUPARNAMIRIM corram atrás e PARAÚ e tragam para mim, eles realmente me pararu, me amarraru e me colocaru em uma LAGOA DE PEDRAS e adispois em um POÇO BRANCO. Cumpade o corpo todo tremia, a voz já não saia, os cabelu nem sentava no casco. Foi quando eu a lembrei de SANTA MARIA e do meu anjo da guarda, SÃO RAFAEL, e cumecei a rezar,nisso o pajé me olhou da cabeça aos pés e disse: UMARIZAL, TAIPÚ vá buscar CANGUARETAMA.

Cumpade pense numa agonia danada enquanto eles saia eu me borrava todo nas calças. Quando vortaru o pajé falou: veja filha se esse serve? Enquanto eu espiava aqueles cabelus e oios  pretu feito a casca de umaCARAÚBAS, ela tapava o nariz e balançava a cabeça em negação. Entonce JUCURUTU me soltou eAPODI disse aqui é PASSA E FICA mai você num vai ficar. O pajé com um oiar dar uma ordem e ARÊS trai um jumento, ITAÚ inda diz: o nome dele é nema. Aí me ajuda a muntar no burro, e espanca o animal que sae em toda carreira, enquanto eles gritam aqui num é lugar pra covardes.

Cumpade o burro curria e eu agradecia pru céu, o meu estoque de santo já tinha acabado, mai inda restava alguns, então comecei a agradicer, a SÃO PAULO DO POTENGISÃO GONÇALO DO AMARANTE eSÃO JOSÉ DO MIPIBÚ. Fiz o sinal da SANTA CRUZ e sai me escurregando nos espinhaço do burro, que começa a desembestar e a pular devido a catinga, e eu gritano aperriado upa, upa, UPANEMA, pare meu bichinho. Nisso só ouvir a burduada cai estatelado no tronco de um pé de MACAÍBA, e ali mesmo adormecie todo duido. Acordei com o canto dum CAICÓ e dum TANGARÁ.despertei adispois de uma madorna boa e sai andano a pé com o bucho roncando que parecia um trovão, a vista já tava escura de sede, num via mai nada. Só sei que cheguei numa LAJES e caminhei até achar uma LAGOA NOVA pra me banhar, e bem na frente encontrei uma LAGOA DE VELHOS.
Pedi cumida e me derum umas GOIANINHAS, preguntei onde estava, e eles disserum na SERRA DO MEL, então sai por entre umas plantaiada que formava uma FLORÂNIA e que parecia uma VILA FLOR. Segui as abeias e achei uma JANDAIRA, e que mé, foi um SÃO TOMÉ. Rumei para o oeste e dicie aSERRA CAIADA na noite de NATAL. Foi lá que vi a beleza e a PUREZA de ALEXANDRIA, chamei um menino pru nome de IELMO MARINHO e pedi um favor. Só pra dar um recado aquela donzela que meu coração amou. Mas o minino olhou e disse: Deus que me livre meu sinhor, aquela muier bunita é fia de seuJOÃO DIAS e ele é o lampiã da regiã.
Te juro cumpade, em nome da VERA CRUZ, aquela muier inté os anjos seduz. Tudo que hoje eu mai quiria era com ela casar, e se isso um dia vier a acontecer,pode ter certeza, pra eu será o trofé do meu TRIUNFO POTIGUAR.

Conto Poético de Lino sapo ( andrelino da silva) em homenagem e respeito a todas as Cidades que pertence ao estado do Rio Grande do Norte.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Amor revolucionário


Em um romance inspirado na história de sua própria mãe,
a cubana Wendy Guerra faz um retrato polêmico da guerrilheira
comunista Celia Sánchez

Duda Teixeira
Fotos Time & Life Pictures/Getty Images e Alejandro Ernesto/EFE
BAÚ DE SOMBRAS
Celia Sánchez (à dir.) com seu provável amante Fidel Castro: Wendy Guerra (à esq.)
adiciona uma sutil pimenta ao enredo

Fechados ao escrutínio público, os bastidores das ditaduras são baús cheios de histórias sombrias e duvidosas. Cuba tem um amontoado delas, à espera de decifração. O guerrilheiro Camilo Cienfuegos, que ganhava em carisma dos irmãos Fidel e Raúl Castro e morreu após a revolução, teve o avião sabotado pela dupla de tiranos? O general Arnaldo Ochoa, fuzilado após julgamento sumário, estava mesmo vinculado ao narcotráfico? E o que dizer de Celia Sánchez, a sisuda guerrilheira que acompanhou os barbudos em Sierra Maestra – terá ela sido amante de Fidel Castro? Juanita Castro, a irmã dos ditadores que hoje vive aposentada em Miami, garante que sim no livro Mis Hermanos: Celia "era a mão direita, a mão esquerda, os dois pés e as barbas de Fidel". Mas esse capítulo pode ser mais picante. Celia, que tinha adoração por jipes e viveu a maior parte da vida solteira, talvez tenha amado outras mulheres. A possibilidade é insinuada pela cubana Wendy Guerra em Nunca Fui Primeira-Dama (tradução de Josely Vianna Baptista; Benvirá; 256 páginas; 39,90 reais), romance recém-lançado no Brasil.
Na obra, a personagem Nadia Guerra – alter ego da autora – inicia uma pesquisa para descobrir o passado de sua mãe, que a abandonara quando criança. Depois de uma visita à Rússia, traz de volta para Cuba a mãe desmemoriada e também uma caixa de documentos. Para compor esses documentos fictícios, mas não inverídicos, Wendy usou depoimentos reais que tomou de familiares seus e de Celia. Em um deles, uma tia de Nadia fala de um beijo trocado entre a mãe da protagonista e Celia. Em outro, Celia demonstra ciúme quando a amiga é flagrada seminua por Che Guevara. Na vida real, a mãe de Wendy, Albis Torres, foi investigada pelo serviço secreto cubano por causa de seu relacionamento próximo com Celia. A própria Wendy, em entrevista a VEJA por e-mail, não quis comentar a extensão desse relacionamento.
Nunca Fui Primeira-Dama é o segundo romance de Wendy, de 39 anos, que mora em Havana. Após publicar suas obras em oito países (mas não em Cuba), ela se viu cerceada pelo regime. Perdeu seu emprego como apresentadora de programas infantis na TV. Como o telefone está grampeado e a ligação cai a todo momento, ela prefere se comunicar por e-mail, mas seu editor brasileiro pede que palavras como "Fidel" e "Cuba" sejam trocadas por FFf e CCc, uma pirueta para driblar a vigilância. A carreira literária de Wendy só foi possível porque, protegida de Gabriel García Márquez, amigão de Fidel, ela consegue viajar por outros países e fazer contatos com editores. A autora obteve o visto de saída na semana passada, mas ainda assim pode ter problemas em comparecer a um festival literário para o qual foi convidada no Brasil. Como tantos outros cubanos de sua geração que se recusam a seguir os medalhões da revolução, Wendy Guerra aguarda o momento em que o baú de Cuba seja aberto para o mundo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Festa no outro apartamento

Contribuições que recebo e comparilho com vocês,

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco.

Há no ar um certo queixume sem razões muito claras. Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?

Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: 'Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento'. Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.

As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores. 'Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo'. Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.

Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé?

Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.

© Martha Medeiros

terça-feira, 6 de julho de 2010

Essa tal felicidade





Final do segundo expediente, vindo para um terceiro momento de trabalho do dia.  O sol já repousava sob as luzes da cidade.
No meio da multidão, chamou-me a atenção o sorriso displicente daquela mulher. Sorria para o nada, pra ninguém, de ninguém. Apenas Sorria e nada mais. Parecia feliz aquela mulher, completamente alienada ao mundo em sua volta. Não se importava com o olhar dos infelizes, não podia ver o sofrimento permanente e constante daquela gente, não podia sentir a inquietude dos que desejam sem sucesso, mudar o mundo. O dia de amanhã seria igualmente feliz para aquela mulher. Ela não esperava nada, não esperava ninguém, não se importava com o que estava por vir. Só a instantaniedade do momento presente importava. Não tinha raiva, rancor, medo, saudades... Não tinha esperanças aquela mulher. Estava feliz, estava viva, estava ali, sorrindo, sorrindo para tudo e para todos a sua volta. Estava feliz e isso já bastava.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mariana Borges interpreta "Chapeuzinho Amarelo", do Chico Buarque

A Fantasia se faz presente na interpretação de Mariana Borges.
"Chapeuzinho Amarelo ganha vida e voz, levando os leitores a compartilhar os seus medos.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mulher sem culpa

Quando não encontro inspirarão para escrever,seleciono algo que considero bacana para compartilhar com vocês:
'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado,  decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.Você não é Nossa Senhora.Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.Tempo para fazer nada.Tempo para fazer tudo.Tempo para dançar sozinha na sala.Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.Tempo para sumir dois dias com seu amor.Três dias.
 Cinco dias!Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novel
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.Tempo para conhecer outras pessoas.Voltar a estudar,para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal
Existir, a que será que se destina?Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
     Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
 Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante' 
  Martha Medeiros - Jornalista e escritora

sábado, 22 de maio de 2010

O Voo da borboleta

o




O frio do ar condicionado confundia-se com a frieza involuntária das minhas mãos. Tudo ali parecia frio, o bege pálido das paredes lembrava os rostos que iam e vinham em várias direções.O branco dos jalecos anunciava o que estava por vir. O tempo parecia ter parado para assistir aquele momento, cada minuto durava longas horas de reflexão, muitas interrogações e poucas respostas.  O que poderia acontecer? como seria? e depois?  Ninguém poderia me dizer. Finalmente uma voz  que me disse: " Pode ir, agora é a sua vez".
Segui sozinha, com todos os meus medos e insegurança, mas com uma única certeza, tudo ia ficar bem. Toda aquela vestimenta  não foi capaz de minimizar os tremores imperceptíveis do meu corpo, embora que os batimentos cardíacos dissessem o contrário.Ouvi outra voz que me dizia com delicadeza: "Vou cuidar do seu soninho" Foi tudo que pude ouvir. Só depois de algumas horas é que novamente ecoou daquele silêncio profundo: "acabou". Passei a mão levemente para  comprovar o fato. Já não mais estava ali, a borboleta azul, havia voado para sempre, deixando apenas as marcas dolorosas de sua saída e a ansiedade de uma resposta. 

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Gastos de prefeituras estarão disponíveis para consulta pública


A ideia foi proposta pelo Marcco e atendida pelo Tribunal de Contas do Estado. Serviço será disponibilizado no site do TCE.

Por Carla Cruz
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Foto: Vlademir Alexandre
Juliana Limeira, procuradora e coordenadora do Marcco.
Até o final do mês, quem tiver qualquer dúvida sobre os gastos da administração municipal de sua cidade pode conferir a prestação de contas da prefeitura diretamente no site do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Atendendo à solicitação do Movimento Articulado de Combate à Corrupção (Marcco), o órgão assumiu o compromisso de disponibilizar um banco de dados com informações sobre todos os municípios potiguares, coletados através do Sistema Integrado de Auditoria Informatizada (SIAI).

A proposta do Movimento é que todos os cidadãos tenham acesso aos números das despesas das prefeituras, tais como: receitas, despesas, licitações, contratos, concorrências, e outros gastos. A partir da Lei de Responsabilidade Fiscal, que já determina que as prefeituras informem periodicamente estes dados ao TCE, a transparência na gestão dos recursos públicos passou a ser uma prioridade.

"A reunião foi muito proveitosa, e esperamos que até o final de maio as informações já estejam disponíveis no site do TCE”, disse a coordenadora do Marcco, procuradora Juliana Limeira, após a reunião.

A ideia é que seja aberto mais um canal de fiscalização, inserindo a sociedade no processo de acompanhamento dos trabalhos dos 167 executivos municipais.
“Além da sua importância no controle da gestão pública, o TCE pode contribuir no que se refere à carência de informações atualizadas quanto às receitas e despesas publicas municipais e estaduais”, destacou a procuradora.

Participaram também da reunião desta terça o Consultor Jurídico do TCE, Cláudio Marinho; o diretor de informática, Paulo Roberto; o Diretor da Inspetoria de Controle Externo e Presidente da Comissão do SIAI, Jailson Tavares; o Chefe de Gabinete, Laércio Segundo; o Promotor Público Reinaldo Reis; o representante do TCU/RN, Alexandre Caminha; a Procuradora Geral do MPJTC, Luciana Ribeiro Campos; e o Procurador Carlos Thompson.

domingo, 2 de maio de 2010

Mais uma Vez

 Hoje me lembrei de uma música que a muito não ouvia, "mais uma vez " do saudoso Renato Russo.É uma bela composição que nos faz refletir sobre as dificuldades da vida mas que traz em sua letra uma mensagem otimista em seu refrão, "quem acredita sempre alcança".Eu acredito!  Quero pois, compartilhar com todos(as), a beleza, a leveza e a clareza da Música "Mais uma Vez".


Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei...

Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem...

Tem gente que está
Do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar...

Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo...

Quem acredita
Sempre alcança...

Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem...

Nunca deixe que lhe digam:
Que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos
Nunca vão dar certo
Ou que você nunca
Vai ser alguém...

Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo!...

Quem acredita
Sempre alcança...(7x)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Entre sonhos e realidades



Foi assim, ali mesmo, sentada literalmente no chão da escola que a escritora Potiguar, Rosângela Trajano, falou sobre o fantástico mundo da literatura infantil. Falava mansinho,olho no olho,compartilhando descobertas com todas aquelas crianças de uma escola pública de Natal. Falou das contribuições de Cervantes, das suas quatro horas de leituras diária, desvendou os segredos de se escrever um livro. Falou ainda da grande felicidade de escrever para as crianças e da alegria de ve-las lendo, de ve-las descobrindo o mundo da leitura. As crianças vibravam a cada nova descoberta, dialogavam de pertinho com a escritora que mais parecia uma menina no meio das outras.A cada 15 minutos uma nova turma entrava para compartilhar daquele momento quase mágico. E ela, incansável, recomeçava com todo encantamento, como da primeira vez.


 Rosangêla Trajano por ela mesma.
"Eu sou uma curiosa, metida a besta e inteligente. Fiz alguns vestibulares, fui reprovada em alguns e aprovada em outros. Devia ter concluído o curso de Sistemas de Informação, mas abandonei. Larguei esse curso para fazer Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Publiquei meu primeiro livro intitulado Carrossel de Poesias (Poesias para crianças), no dia 01 de dezembro de 1999. Numa noite belíssima, na Capitania das Artes, rodeada de crianças, amigos e familiares. Um coquetel maravilhoso, meus olhos brilhavam mais que todas as estrelas no céu e as pernas tremiam. Esse livro foi um presente às crianças de todo o Universo, porque foi através delas que encontrei a esperança para lutar pela realização dos meus sonhos.
Meu segundo livro intitulado Giges e o anel, também foi publicado no mês de dezembro no ano de 2003, na Bueno Livraria, localizada no Natal Shopping, em Natal-RN.
De lá para cá não parei mais de publicar livros. Acho que já são uns trinta e poucos.
Escrevo para alguns periódicos locais, sou licenciada em filosofia, mestra em estudos da linguagem pela UFRN, professora de filosofia, inglês e produção textual além de pesquisadora na área de filosofia para crianças. Gosto de programação de computadores e matemática. Além do mais adoro viver!
Quando quero um refúgio vou à praia de Jacumã, lugar de uma rara tranquilidade. Eis-me, um ser humano como outro qualquer, entre qualidades e defeitos, sonhos e realidade."

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O que os olhos não vêem

Havia uma vez um reino muito distante,
que vivia em seu palácio
com toda a corte reinante.
Reinar pra ele era fácil,
ele gostava bastante.


Mas um dia, coisa estranha!
Como foi que aconteceu?
Com tristeza do seu povo
nosso rei adoeceu.
De uma doença esquisita,
toda gente, muito aflita,
de repente percebeu...

Pessoas grandes e fortes
o rei enxergava bem.
Mas se fossem pequeninas,
e se falassem baixinho,
o rei não via ninguém.

Por isso, seus funcionários
tinham de ser escolhidos
entre os grandes e falantes,
sempre muito bem nutridos.
Que tivessem muita força,
e que fossem bem nascidos.
E assim, quem fosse pequeno,
da voz fraca, mal vestido,
não conseguia ser visto.
E nunca, nunca era ouvido.

O rei não fazia nada
contra tal situação;
pois nem mesmo acreditava
nessa modificação.
E se não via os pequenos
e sua voz não escutava,
por mais que eles reclamassem
o rei nem mesmo notava.

E o pior é que a doença
num instante se espalhou.
Quem vivia junto ao rei
logo a doença pegou.
E os ministros e os soldados,
funcionários e agregados,
toda essa gente cegou.

De uma cegueira terrível,
que até parecia incrível
de um vivente acreditar,
que os mesmos olhos que viam
pessoas grandes e fortes,
as pessoas pequeninas
não podiam enxergar.

E se, no meio do povo,
nascia algum grandalhão,
era logo convidado
para ser o assistente
de algum grande figurão.
Ou senão, pra ter patente
de tenente ou capitão.
E logo que ele chegava,
no palácio se instalava;
e a doença, bem depressa,
no tal grandalhão pegava.

Todas aquelas pessoas,
com quem ele convivia,
que ele tão bem enxergava,
cuja voz tão bem ouvia,
como num encantamento,
ele agora não tomava
o menor conhecimento...

Seria até engraçado
se não fosse muito triste;
como tanta coisa estranha
que por esse mundo existe.

E o povo foi desprezado,
pouco a pouco, lentamente.
Enquanto que próprio rei
vivia muito contente;
pois o que os olhos não vêem,
nosso coração não sente.

E o povo foi percebendo
que estava sendo esquecido;
que trabalhava bastante,
mas que nunca era atendido;
que por mais que se esforçasse
não era reconhecido.

Cada pessoa do povo
foi chegando á convicção,
que eles mesmos é que tinham
que encontrar a solução
pra terminar a tragédia.
Pois quem monta na garupa
não pega nunca na rédea!

Eles então se juntaram,
Discutiram, pelejaram,
E chegaram à conclusão
Que, se a voz de um era fraca,
Juntando as vozes de todos
Mais parecia um trovão.

E se todos, tão pequenos,
Fizessem pernas de pau,
Então ficariam grandes,
E no palácio real
Seriam logo avistados,
Ouviriam os seus brados,
Seria como um sinal.

E todos juntos, unidos,
fazendo muito alarido
seguiram pra capital.
Agora, todos bem altos
nas suas pernas de pau.
Enquanto isso, nosso rei
continuava contente.
Pois o que os olhos não vêem
nosso coração não sente...

Mas de repente, que coisa!
Que ruído tão possante!
Uma voz tão alta assim
só pode ser um gigante!
- Vamos olhar na muralha.
- Ai, São Sinfrônio, me valha
neste momento terrível!
Que coisa tão grande é esta
que parece uma floresta?
Mas que multidão incrível!

E os barões e os cavaleiros,
ministros e camareiros,
damas, valetes e o rei
tremiam como geléia,
daquela grande assembléia,
como eu nunca imaginei!

E os grandões, antes tão fortes,
que pareciam suportes
da própria casa real;
agora tinham xiliques
e cheios de tremeliques
fugiam da capital.

O povo estava espantado
pois nunca tinha pensado
em causar tal confusão,
só queriam ser ouvidos,
ser vistos e recebidos
sem maior complicação.

E agora os nobres fugiam,
apavorados corriam
de medo daquela gente.
E o rei corria na frente,
dizendo que desistia
de seus poderes reais.
Se governar era aquilo
ele não queria mais!

Eu vou parar por aqui
a história a que estou contando.
O que se seguiu depois
cada um vá inventando.
Se apareceu novo rei
ou se o povo está mandando,
na verdade não faz mal.
Que todos naquele reino
guardam muito bem guardadas
as suas pernas de pau.

Pois temem que seu governo
possa cegar de repente.
E eles sabem muito bem
que quando os olhos não vêem
nosso coração não sente.



Ruth Rocha 

*Qualquer semelhança e pura coincidência.