segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Participar é preciso!


Na vida, somos sempre convidados a participar de alguma ação.Muitas vezes não damos a devida relevância a esse aspecto , ao ato de participar, opinar, intervir. A Participação é um dos princípios da democracia.Não existe neutralidade nas ações, mesmo quando por algum motivo, nos eximimos de um ato, de uma ação, estamos afirmando um possicionamento,em alguns casos, contrário ao que desejamos. A porticipação, é pois, um ato de liberdade, sem ela, não é possível transformar em realidade, princípios como : igualdade, liberdade, diversidade e solidariedade.Falamos aqui de participação em todos os níveis, sem exclusão prévia de nenhum grupo social, sem limitações que restrinjam o direito e o dever de cada pessoa tomar parte e se responsabilizar pelo que acontece no planeta. Em resumo, cada um de nós é responsável pelo que acontece nas questões locais, nacionais e internacionais. Somos cidadãos do mundo e, portanto, co-responsáveis por tudo o que ocorre. A única forma de transformar este direito em realidade é através da participação.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O adeus necessário

Relembro que assisti um filme e fiquei encantada com a cena que a protagonista lançava uma valiosíssima jóia ao mar. Aquilo sim era um adeus necessário; um adeus para ficar em paz. Saí do cinema pensando se precisava e do que precisava me desapegar. Aquela idéia de desapego como fechamento de um ciclo ou rompimento com o que nos incomoda me impreguinou de forma tão forte que comecei a praticar o desapego.  
Comecei observando minha casa, como guardava livros, revistas e papéis. Procurei identificar a real necessidade de guardar aquilo tudo. No geral, fui identificando o que tinha e era inútil, portanto não precisava ter. O que não tinha e era útil, portanto era preciso decidir se queria ter. Ter ou não ter passou a ser a questão. Tinha livros demais. Revistas guardadas para um dia ler novamente. Papéis guardados por puro vicio e muita energia parada. Então fui iniciando o processo desapego. Fácil? Não!.
Fiz do desapego uma política de substituição das coisas que não estavam tendo utilidade por coisas úteis. Era hora de dar mais uma observada pela casa. A busca ao tesouro perdido Buscas, buscas... Parecia não ter mais nada. De repente! É isso! O tesouro perdido: ouro. Mais uma vez: Ação! Pesei tudo e vendi. Bom, vendi e paguei parte da reforma do apartamento. Com isso, aprendi que ter é diferente de só guardar.
Nessas experiências fui me permitindo, discretamente, bisbilhotar um pouco como as pessoas reagem ao assunto desapego. Uma senhora de 83 anos me falou: “...no meu tempo tudo era marcado. Lembro inclusive de uns panos de prato que tenho até hoje guardado. São lindos com as nossas iniciais bordadas. Ah! Ta tudo naquelas caixas”. Como se não acreditasse perguntei “A senhora tem os panos de pratos de seu enxoval? Mas isso faz mais de cinqüenta anos! E a senhora não usou?” Ela respondeu: Não! Eles eram tão bonitos que eu ia usando outros e .... Eu até já pensei em doar mas, depois desisti.” Das informações captadas naquele momento percebi que aquela senhora estava ali na minha frente, confirmando que só precisamos ter o que realmente precisamos ter. O que é preciso é sim, ter o prazer de ter coisas úteis. 
E isso é uma escolha o que nos exige, inclusive, aprender dizer adeus.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Investimento em educação ainda é considerado baixo

 Publicação: 06 de Novembro de 2011 -Tribuna do Norte


Professores desvalorizados, escolas sucateadas e baixo investimento em estrutura e em pessoal. Os problemas da educação pública não são poucos, nem novos. Para a professora e associada do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Sírlia Fernandes de Lira, esses são alguns fatores que precisam ser revistos com urgência pelos gestores públicos. Para a professora, a disparidade entre os valores gastos com alunos e detentos pode explicar, inclusive, porque há tantos presos nas cadeias do Estado.

Emanuel AmaralSírlia Fernandes acredita que se o volume de recursos destinado às escolas fosse maior, o número de detentos poderia diminuir 
Sírlia Fernandes acredita que se o volume de recursos destinado às escolas fosse maior, o número de detentos poderia diminuir
"A falta de educação gera uma série de problemas e, entre eles, a violência. Quando se tem mais educação, onde os jovens têm a oportunidade de frequentar uma boa escola, os índices de criminalidade diminuem. Essa matemática do preso custar mais caro que o aluno está equivocada. Era para ser ao contrário", alega. Ela acredita que se o investimento em educação fosse maior, a tendência era que o número de presos diminuísse.

O vice-presidente da OAB/RN, Aldo Medeiros Filho concorda com a professora. "É preciso maior investimento na base da formação do cidadão, lá na educação básica, para que não se tenha esse contrassenso de investimentos que estamos vendo agora", afirma.

A professora acredita que sem maiores investimentos, bem como a boa gestão dos recursos, o cenário de desigualdade permanecerá por muito tempo. Sírlia, assim como outros professores, defende a aplicação de pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país na educação.  "Há uma expectativa de que, até 2014, esse investimento seja de 7,5%. Não queremos somente isso. Nossa luta pelos 10% está mais do que concretizada e é fato de faz-se necessária".

Além da aplicação de uma maior quantidade de recursos, a educadora acredita que a sociedade precisa ser mais atuante, cobrando resultados da própria escola. Essa cobrança, segundo Sírlia, não existe, e cita como exemplo as aulas de reposição após a greve deste ano. "Tivemos uma greve de muitos dias. Quando as aulas estavam paralisadas, viam-se pais reclamando, cobrando a presença do professor dentro da sala de aula. Agora, depois que as aulas retornaram, os pais sumiram. Não procuram a escola para saber se têm aulas de reposição nem querem saber como está o rendimento de seus filhos", pondera.

domingo, 7 de agosto de 2011

Voto Livre


Recebi de um amigo, gostei muito e  compartilho com vocês  o texto : Voto Livre. 

Os sonhos de cada um são tirados na pior da covardia, promessas que não se vêem e nem mesmo se concretizam, palavras mais bonitas para a alimentação falsa das ilusas que ainda se esperam na fé de que seja alcançado pelo menos um pouco do que se acredita. Juramentos que se fizeram sem nenhum compromisso em busca de adquirir conforto pessoal, na individualidade unigênita do próprio ser que não conseguiu ver as bruscas medidas que se tomaram para chegarem ao topo, sem medir consequências das suas atitudes vão sempre em frente. Esses são os ditos da sociedade que deveriam pelejar para melhoria da habitação, saneamento básico e etc.      
Dúvidas ao decidir? Pensamento e análise cautelosa se fazem necessários para uma escolha difícil entre a razão e a precisão momentânea que só é sancionado naquele instante, raciocínio sobre tudo que já se foi assistido aos longos anos desse processo eleitoral e democrático que parece ser o mais lindo e honesto aos olhos dos que não querem ver, tornando assim a escolha bem mais difícil, porém nunca impossível, pois ainda existe aquele que está em busca da melhoria da população. Pesquise e analise o histórico político de cada um, exercendo o seu DIREITO de CIDADANIA. VOTE!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O tal dano da greve.


Tem danos que vem com a ausência. Tem outros que chegam mesmo na presença. Lembro de ter ouvido uma história em Santa Cruz, sobre uma aluna recém concluinte do ensino médio que chorou diante de uma prova de vestibular da UFRN.

Quando ela abriu a prova de Física entrou em pânico. Nada daquele vasto universo de conceitos exóticos e intrincadas ideias, transmutáveis em fórmulas matemáticas, fazia sentido para ela. A garota havia passado todo o ensino médio regularmente matriculada na rede pública de ensino do estado do Rio Grande do Norte e havia estudado apenas um assunto da disciplina de Física.

Um único, inexpugnável, irredutível, tema. Uma única e absoluta problemática. Uma só grande questão desde que Galileu, Copernico, Newton e Heisenberg pisaram sobre a terra. Um mesmo tópico, alçado a tal categoria de abrangência, que parecia resumir tudo o que os físicos construíram em quase três mil anos de ciência ocidental. A garota havia passado o ensino médio estudando Movimento Retilíneo Uniforme e Movimento Uniformemente Variado, nada mais, nada menos.

Um ex-aluno, também recém formado no ensino médio, fazia as vezes de professor, ocupando um espaço vago na sala de aula, tentando, com seu esforço pessoal, suprir as carências daquela turma. Como o rapaz, sem perspectiva de uma graduação na área de Física, só dominava esse tema, só tinha condições de ensinar esse único tópico.

A despeito de ter ou não acontecido desta forma, essa surrealista história nos alerta para um dado muito evidente: o dano pedagógico não se cristaliza apenas quando a escola está fechada, com seus servidores mobilizados por uma greve.

O dano pedagógico também se processa quando as portas da escola estão abertas e se manifesta costumeiramente em uma carência, em uma ausência, em uma desconcertante ilusão: a ideia de que o fato de o aluno estar em sala de aula é razão necessária e suficiente para que a qualidade do ensino se manifeste.

Esse delírio ontológico nos faz pensar que só o fato do aluno estar diante de um professor já exime o Estado de suas responsabilidades em empreender políticas reais, efetivas de valorização da educação.

Faz tempo que o Estado potiguar se auto alforriou da obrigação de implementar uma política educacional de qualidade. Faz tempo que não há interesse, por parte do poder público em pôr em uma mesma sala de aula o filho do juiz e o filho da empregada doméstica. Faz muito tempo, que setores mais influentes da sociedade brasileira, se acostumaram a pensar que o espaço da escola pública é um espaço de uma educação pobre para o povo pobre.

Esse é um modo perverso de manter aquela velha ordem aristocrática de poder social, na qual filhos de famílias bem dotadas economicamente tem a concorrência por posições sociais diminuída em função do desnível, do descompasso, entre a educação que lhes é oferecida e a educação que se oferece para os filhos dos empregados de seus pais.

Não é a greve, amigo velho, que produz o verdadeiro dano ao aluno da escola pública potiguar. Não são os professores, cansados de serem tratados como cidadãos de segunda classe, lançados pela lógica da exclusão na base da cadeia alimentar das profissões, que criam o dano real aos alunos desse estado. É essa sede, amigo velho, essa carência de cuidado, que nasce da omissão de uma sociedade que parece não estar muito a fim de levar a sério a educação de seus filhos. Uma sociedade que elege a muitas décadas governos produtores de greves, sucateadores de sonhos, moedores das esperanças de gerações e gerações de alunos potiguares.

Por PABLO CAPISTRANO

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ao Companheiro José


José,
Gostaria de estar ao seu lado nesse momento, mas os compromissos diários me mentem fisicamente  distante.

Fico tranquila apenas por saber que você não está só nessa luta, sei que assim como eu muita gente acredita  no seu trabalho, na sua coragem e sobretudo no seu caráter e responsabilidade de conduzir com clareza, credibilidade e transparência a tarefa a qual foi submetido. Você é um homem público, tem serviço prestado junto ao seu povo e nunca  teve o nome atrelado a corrupção, improbidade administrativa , enriquecimento ilícito ou algo do gênero.

Você soube plantar cultura onde só germinava pobreza, miséria  e desesperança. Soube governar com e para o povo que o elegeu. Em meio a tanta diversidade teve o seu trabalho e da sua equipe reconhecido   nacionalmente nas páginas da revista Veja e na tela da TV globo. Isso é fato! Palavras ao léu  não apagam da memória e nem da história  os fatos dos que viveram esse momento.

Por fim, quero dizer do orgulho  de tê-lo ao meu lado, estamos sentindo muito a sua falta, mas temos a clareza da importância do trabalho que você está fazendo junto ao seu povo.

Quanto ao " poder", meu caro, só conheço  dois, o poder de Deus que independe da vontade de nós , pobres mortais, e  no campo democrático, o poder que emana do povo e portanto , não tem dono.

Gosto muito do Chico Buarque  e  aproveito para dedicar-te trecho da música "Apesar de você" .

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar

Com admiração,
Sírlia

domingo, 1 de maio de 2011

Mosaico

 Separados, não passam de insignificantes pedaços. podem ser cortantes, podem ter contornos irregulares, podem até brilhar,mas serão sempre insignificantes. Quando juntos, cada um com sua cor marcante, com sua  particularidade, com seu brilho crescente se transformam em algo maior, mais significativo, retratando a imensidão de quem o criou. Assim somos nós, cercados de sentimentos irregulares, cortantes ,brilhantes. Formamos um enorme mosaico de sentimentos. Muitas vezes, espalhamos nossos pedaços por tudo que canto, buscando encontrar outros pedaços em que exista harmonia na cor, nos contornos e nos brilhos. Por vezes encontramos pedaços diversos, mas com brilhos diferentes e contornos que não se encaixam. Em outros momento, julgamos ter as peças  bem definidas, bem delineadas , em perfeita harmonia, até que uma delas saia paulatinamente do lugar  e cause o desequilíbrio necessário para uma nova , dolorosa e demorada  junção. 

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um abraço em Moacyr Scliar




No ano de 1992, quando eu ainda acreditava que a função do crítico literário fosse a de produzir avaliações, veredictos e sentenças, caiu-me nas mãos Sonhos tropicais, o décimo segundo romance de Moacyr Scliar. Há muito deixei de ver no crítico uma espécie de juiz de peruca, que interroga, absolve, ou condena uma obra. Naquela época, contudo, por insegurança, por teimosia, por medo de errar, ainda insistia em dizer se um livro era bom ou ruim.


Não gostei de Sonhos tropicais e, em uma resenha que escrevi para uma revista semanal, disse isso com todas as letras. Baseado na trajetória do sanitarista Oswald Cruz ― figura central na vida de Scliar, ele próprio um médico sanitarista ―, Sonhos tropicais me pareceu um livro temeroso em que seu autor, refém das rigorosas exigências da pesquisa, não conseguiu se dar a liberdade que deveria e merecia se dar.


Hoje não sei se teria a mesma opinião. De fato, não aprecio as biografias romanceadas, gênero que me parece, em geral, preguiçoso e frouxo. Ocorre que Scliar não apresentava seu livro como uma biografia romanceada, mas como um romance ― e foi isso, talvez, o que me incomodou. Talvez, pensei, ele não tivesse se decidido muito bem a respeito do livro que queria escrever. Talvez... mas o que importa! Nunca mais voltei a ler Sonhos tropicais, mas planejo fazer isso em breve, para matar um pouco as saudades do amigo que perdi.

Publicada minha desagradável resenha, pensei: Scliar me odiará para sempre. Não o procurei mais, nem ele me procurou, o que parecia provar a tese da ruptura. Quase um ano depois, porém, caminhava eu pela Rua da Praia, em Porto Alegre, quando o avistei de longe. Vinha em minha direção. Pensei em mudar de caminho, mas o correto era seguir em frente e enfrentá-lo, e foi o que fiz.

"Precisamos nos falar por dois minutos", ele me disse, sem disfarçar a ansiedade. Pensei: "Pronto: chegou a hora de ouvir o que mereço ouvir". Não me deixou pensar, foi rápido: "Por que não tomamos um café?". Aceitei; eu não tinha escolha. Na esquina, nos perfilamos diante do balcão de uma confeitaria. Durante um ou dois minutos, nem eu, nem Scliar conseguíamos dizer qualquer coisa. Até que ele, num desafogo, me disse: "Você sabe no que estou pensando". Não podia negar que sabia: "É claro, no livro do Oswaldo Cruz".

Admitiu, então, que, ao ler minha resenha, ficara furioso. Mais ainda, ficara decepcionado, pois nela sentira a ponta secreta de uma traição. Durante alguns dias, recordou ainda, ensaiou respostas incisivas que me daria em um telefonema. Aos poucos, contudo, a dor abrandou e, me disse Scliar já com um esboço de sorriso, ele conseguiu enfim pensar.

Não adoçou as palavras: "Quero lhe dizer que você tem toda razão no que escreveu". Abriu, então, um sorriso vasto e longo, de alívio, mas também de gratidão. Enfim, continuou: "Depois que a raiva passou e que controlei a vaidade, consegui enfim aceitar o que você me dizia". Nos dias seguintes, refletiu sobre seu caminho literário, lutou para se observar desde fora. Quanto a mim, estava imobilizado. Cedesse à vaidade, e passaria a acreditar, enfim, que era um "grande crítico". Quanta tolice! Minha resenha era não só pequena, mas despretensiosa. Limitei-me a esboçar uma impressão muito breve. Forte era Scliar que, machucado por minhas palavras, soube, ainda assim, lhes emprestar uma grandeza que não tinham.

Vitória do leitor: são os leitores, no fim das contas, que fazem os grandes livros. Era só nisso, na verdade, que eu conseguia pensar. Se ainda tinha dúvidas a respeito do destino de nossa conversa, elas se dissiparam quando Scliar me disse: "Deixe eu lhe dar um abraço. De agradecimento. Agradecer pela sua coragem, e lhe dizer que você me obrigou a ser corajoso também". É com dificuldades que recordo as palavras que trocamos. Não só porque muitos anos se passaram, mas também porque estávamos, ambos, engolfados pela emoção. Em silêncio, nos abraçamos ― e aquele abraço foi mais eloqüente que qualquer palavra. Guardava uma força crítica que, em minhas resenhas literárias, jamais consegui. Não era uma crítica para me destruir, era uma crítica para me acolher. Era para dizer: "Podemos divergir e, apesar disso, caminhar juntos".

Não que, quando escrevi minha resenha de Sonhos tropicais, eu tenha desejado destruir a reputação de Scliar ― tarefa, aliás, em que eu teria sido derrotado. Ao contrário: julguei que, ao escrever, apenas me submetia às exigências da verdade ― e Scliar foi grande o bastante para entender isso. Existem, porém, muitas maneiras de dizer uma mesma coisa. Só um coração corajoso como o de Scliar suportaria meus restos de imaturidade (aos 40 anos!) e meus atropelos.

"Você tira um elefante de minhas costas", consegui, enfim, dizer. "Eu sempre me perguntei se tinha sido cruel. Se errara não só no que pensava, mas na maneira de dizer o que pensava". Nesse momento, o médico Scliar se impôs ao escritor Scliar. Ele me interrompeu: "A verdade é sempre dolorosa, mas precisa ser dita". Desde então, uma amizade muito funda, sincera, um forte laço de confiança, nos ligou. Nunca fomos amigos íntimos, mas nos tornamos amigos intensos.

Encontrei-o, pela última vez, em dezembro passado, na Bienal do Livro de Campos, onde chegamos escoltados por Suzana Vargas. Logo percebi o cansaço imenso que carregava. "Soube que ainda temos um jantar pela frente", ele me disse. "Não sei se conseguirei ficar até muito tarde". Fui rápido, talvez até ríspido: "Você não vai a jantar algum, meu amigo. Vai direto para o hotel, pedirá um lanche no quarto e irá para a cama". Abraçou-me em outro imenso silêncio. Os abraços silenciosos são os mais belos: eles simplesmente nos acolhem, sem nada exigir em troca, e sem nos impor significado algum.

Não resisti e lhe dei um beijo no rosto. Senti que levou um susto, porque se empertigou um pouco, como se fosse fazer uma continência. Depois percebi que tinha a face vermelha e dela arrancou, com força, um sorriso. A que correspondi sorrindo também. Achei que nos reveríamos logo, em alguma outra bienal, ou feira literária. Mas não: era um sorriso de adeus.

Obrigado, Scliar, por me levar a entender a insignificância de minhas pequenas opiniões. Obrigado, também, por me ensinar que a grandeza é a falência da vaidade. Nossa amizade nasceu de um desencontro. Como somos misteriosos! Vá se entender os homens! Até hoje sinto o calor de seu abraço e é só isso o que interessa.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no blog A literatura na poltrona, de José Castello, e igualmente reproduzido no jornal literário Rascunho. (Leia também a Entrevista de José Castello e "A Literatura na poltrona".) 




Curitiba, 28/3/2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Escolha

Em algum momento da vida somos surpreendidos por sentimentos confusos. Não sabemos ao certo a sua origem e nem a sua motivação. Ao menos, conseguimos identificá-lo, não fosse pela inquietação que nos causa. É uma angustia daqui, uma ansiedade dali, ressentimentos que chegam e que vão. A  nossa vida é uma grande Usina de sentimentos,com uma capacidade enorme de produção. O difícil mesmo e filtra-los, passa-los  pelo controle de qualidade e ainda assim, continuar humano.
A inteligência emocional é algo que conseguimos a longo prazo, vem com as vivências, com os conflitos vividos, com o rompimento do cordão umbilical. É necessário se olhar de fora, ver-se como sujeito de um grupo, de um lugar, de um mundo diversificado. Como saber quando ser você? como saber como e quando ser o outro? quando se mostrar? quando se esconder? Nem sempre encontramos as respostas. 
Quão monótona seria a vida se soubéssemos todas as perguntas e todas as respostas. As buscas nos tornam vivos, nos lançam desafios, nos fazem viver. As conquistas nos trazem gratificações, nos tranquilizam e nos  fazem acomodar. Um coisa é certa,  a todo tempo é preciso fazer escolhas e algumas ficam para sempre.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Com licença !

 Foto:bodenacidadegrande.wordpress.com
"Não tenha medo, não sou assaltante. Sou de um cidade do interior, vim para capital receber tratamento contra o vírus HIV , perdi todo dinheiro que tinha e agora estou desesperado sem saber como voltar para casa,por isso peço sua ajuda "
Não tive medo da abordagem. O que me assustou foi o olhar perdido, sem rumo e sem esperança daquela pobre criatura. Nada sabia sobre ela, mas sabia que o que falava era a mais pura verdade. Estava explícito em seu olhar, em sua postura, em se medo. Na verdade, tive receio em não poder ajuda-la,, revirei por todos os bolsos da bolsa para finalmente encontrar uma pequena ajuda. Sei que diante do quadro que presenciei, aquela ajuda simbólica servia apenas para o imediato. Não daria rumo e  nem esperanças.  Segui o meu caminho com o coração aliviado por ter ajudado, de qualquer forma, porem, mais do que alívio sentia o incômodo por saber que milhares de pessoas vivem sem renda, sem moradia, sem saúde, sem dignidade, sem cidadania, sem nada.  Essa imagem ficou arquivada , mas o sentimento de indignação continua no peito , o qual procuro traduzi-lo na poesia  de Emmanuel Bezerra .

Quem sou eu


Quem sou eu? Quem sou eu? Meu eu repete
Em louco alvoroço em louca lida
Quem sou eu? Quem sou eu? A mim compete
Responder a pergunta repetida

Mas como responder nessa vida
Eu não sei onde vou onde me levam
Essa treva obscura que convida
A penetrar mais e mais dentro da treva!

Como cego enfim vou caminhando
Nesse caminho áspero e escuro;
Tanto mais as tontas vou andando
Quanto mais caminhando vê procuro

Como louco vagando sem governo
Sigo... sigo, sempre e sempre
No mar da vida ao léu, mas de repente
Em fúria sobre mim cai o inverno

Cai o inverno em fúria e tempestade
Meu Deus, meu Deus onde irei? E nada
Que ouço na triste madrugada
Responda-me meu Deus Deus por caridade

Quem será que fala e que exclama
Em alta voz! E que consolo pede
Adeus e Deus não lhe concede?
é a minha voz perdida que reclama

Que chora  murmura, grita e clama
Desgarradas das vozes cá do mundo
E aquela que do pélogo profundo
Inda vibra, inda pede, inda se inflama

Como nada me responde
Nada a dizer então fico calado
Deixo ao mistério o mistério atado
E não respondo ao que minha alma brada

Não me culpo oh! Eu insatisfeito
De não responder-te em nada influi
Uma resposta em tom tão imperfeito
Olhei meu eu, eu sou quem sempre fui.