sábado, 22 de janeiro de 2011

Com licença !

 Foto:bodenacidadegrande.wordpress.com
"Não tenha medo, não sou assaltante. Sou de um cidade do interior, vim para capital receber tratamento contra o vírus HIV , perdi todo dinheiro que tinha e agora estou desesperado sem saber como voltar para casa,por isso peço sua ajuda "
Não tive medo da abordagem. O que me assustou foi o olhar perdido, sem rumo e sem esperança daquela pobre criatura. Nada sabia sobre ela, mas sabia que o que falava era a mais pura verdade. Estava explícito em seu olhar, em sua postura, em se medo. Na verdade, tive receio em não poder ajuda-la,, revirei por todos os bolsos da bolsa para finalmente encontrar uma pequena ajuda. Sei que diante do quadro que presenciei, aquela ajuda simbólica servia apenas para o imediato. Não daria rumo e  nem esperanças.  Segui o meu caminho com o coração aliviado por ter ajudado, de qualquer forma, porem, mais do que alívio sentia o incômodo por saber que milhares de pessoas vivem sem renda, sem moradia, sem saúde, sem dignidade, sem cidadania, sem nada.  Essa imagem ficou arquivada , mas o sentimento de indignação continua no peito , o qual procuro traduzi-lo na poesia  de Emmanuel Bezerra .

Quem sou eu


Quem sou eu? Quem sou eu? Meu eu repete
Em louco alvoroço em louca lida
Quem sou eu? Quem sou eu? A mim compete
Responder a pergunta repetida

Mas como responder nessa vida
Eu não sei onde vou onde me levam
Essa treva obscura que convida
A penetrar mais e mais dentro da treva!

Como cego enfim vou caminhando
Nesse caminho áspero e escuro;
Tanto mais as tontas vou andando
Quanto mais caminhando vê procuro

Como louco vagando sem governo
Sigo... sigo, sempre e sempre
No mar da vida ao léu, mas de repente
Em fúria sobre mim cai o inverno

Cai o inverno em fúria e tempestade
Meu Deus, meu Deus onde irei? E nada
Que ouço na triste madrugada
Responda-me meu Deus Deus por caridade

Quem será que fala e que exclama
Em alta voz! E que consolo pede
Adeus e Deus não lhe concede?
é a minha voz perdida que reclama

Que chora  murmura, grita e clama
Desgarradas das vozes cá do mundo
E aquela que do pélogo profundo
Inda vibra, inda pede, inda se inflama

Como nada me responde
Nada a dizer então fico calado
Deixo ao mistério o mistério atado
E não respondo ao que minha alma brada

Não me culpo oh! Eu insatisfeito
De não responder-te em nada influi
Uma resposta em tom tão imperfeito
Olhei meu eu, eu sou quem sempre fui.