quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Entre poderes e metamorfoses... a vida passa...

Vez por outra encontro textos belíssimos que nos levam a uma boa viagem ao nosso intimo e às nossa inquietações. Pois bem, hoje me  deparei com o encantamento do texto: "Entre poderes e Metamorfoses....a vida passa.." , da amiga Regina Lúcia,e  o trouxe para compartilhar com vocês.

Quando Deus estava construindo o local, hoje Natal/RN, certamente planejou... “aqui irão morar privilegiados cercados por rio, dunas e mar. Será terra de gente simples que gostará de pitomba, siriguela, cajá, caju, mangaba e coentro. Ribeirinhos que se alimentarão de crustáceos e moluscos ao ponto de receberem o nome de potiguares (comedores de camarão). Gente comunicativa que gostará de uma boa prosa na calçada. Gente amiga suficiente para oferecer um gostoso café com tapioca. Gente acolhedora que não negará a qualquer viajante um cantinho no seu lar. Seus dias serão aquecidos por um sol maravilhoso e durante as noites adotarão o hábito de levar um ventinho(brisa). Terão direito a uma linda visão panorâmica e parte de uma mata que se chamará atlântica. Num futuro longínquo o local será transformado em cidade no dia do aniversário do meu filho, que oficialmente será 25/12. Os da terra deverão amar esse lugar e preservá-lo de todos os males e assim serão pessoas simples e felizes para sempre”. O tempo foi passando... Deus satisfeito.... os nativos tomando banhos no grande rio, comendo peixes e crustáceos a base de colorau. Uma delícia. Chegaram as jangadas que, graças aos ventos alísios, aqui permaneceram e deram aos ribeirinhos o direito de ir e vir por águas nunca dantes navegadas. Ampliavam-se as oportunidades. Das águas salgadas vieram indiscriminadamente manjubinha, cioba, peixe espada, tainha, cavala, serra, guaiuba e muitos outros. Para a população local, ser potiguar foi por muito tempo se bronzear, comer peixe e camarão, ser acolhedor e feliz. Até reformarem as barracas de Ponta Negra (marco divisório entre nativos e turistas). Aí a Cidade do Sol já crescia sem nem lembrar que Palumbo passou por aqui. Os visitantes ajudam a propagar o sabor do camarão, o banho de mar, a da barraca de D. Maria. A cidade caiu na boca do mundo. De tão acolhedora abriu espaços para os chiques que descobrem o paraíso, mas não suportam a ideia de dormir de rede e comer colorau (programa de índio; é verdade!). Bom, juntaram os daqui com os de lá não sei onde e, os costumes foram mudando cada vez mais. Agora a pequena e velha Nova Amsterdã ganha novos costumes. A diversidade é unilateralmente respeitada; manda quem chega (U$). Conversar nas calçadas nem pensar; agora só por celular/internet. A visão panorâmica foi substituída por paredões. Pitomba e siriguela sumiram. Cajá, caju e mangaba só em polpa. Coentro disputas espaço com a salsa. Água de coco agora só com código de barra. Tapioca só nas padarias de conveniências e se for recheada de catupiry, leite condensado, chocolate ou qualquer outro sabor da moda. D. Maria? Sumiu! Foi substituída por garçons (quase) poliglotas que servem camarão com ervas finas em restaurantes especializados, cobrados no valor do dólar e ninguém mais fala em colorau. Tá doido? O que é isso? Foi-se o tempo da manjubinha; o peixe agora é salmão (importado). O banho de rio foi substituído pelo de piscina. O de mar só nas áreas sinalizadas. O futuro que demorava meses e se resumia a organização da festa da padroeira, do carnaval, da semana santa, do Natal e da festa de Santos Reis, agora é projetado para anos de espera num plano sólido de transformar o local numa arena (na antiguidade, local de combates com o intuito de divertir o público). De forma abrupta e radical os atuais idealizadores entraram em campo e, Deus vendo o quanto seus privilegiados se tornaram imensuravelmente pacíficos diante de tantos interesses antagônicos, numa decisão típica de quem está zangado, esquentou o sol, deu fim a brisa e arroxou um calorão. Não vendo nenhuma reação, agora ameaça a possibilidade de tsunami. Faz isso não Deus! Perdoa essa gente, agora concupiscente, e permuta logo esse paraíso por cédulas (verdinhas), o que se deseja agora é carro importado, férias no exterior, cama king, ipod, ipad, smartfone, tablet, celular e até a oportunidade de assistir uma , ou duas, partidas de futebol . Coisas bem efêmeras; afinal... a vida passa mesmo... Reginalus (dez/11)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os "gestores Kodak" e a educação

 Por Thiago Baptistella Cabral

Em janeiro deste ano, a empresa Eastman Kodak Company - aquela mesmo, a "Kodak" das máquinas fotográficas - anunciou o pedido de concordata. Antigamente, fotografia era coisa para poucos. As fotos eram produzidas através de complicados processos com a utilização de chapas de vidro, realizado apenas por especialistas. Foi então em meados de 1880 que o estadunidense George Eastman inventou a fotografia baseada no uso de filmes, e criou a empresa Kodak. Com o genial slogan "você aperta o botão, nós fazemos o resto", a nova tecnologia aos poucos começou a se popularizar, até se tornar a maior empresa de fotografia do mundo. Sabe aquelas fotografias do homem pisando na lua? Pois é, foram tiradas com máquinas da Kodak, do tamanho de caixas de sapato, no ano de 1969. Seis anos depois, Steven Sasson, um engenheiro elétrico da empresa, criou a primeira máquina digital. Na época, a Kodak detinha 90% das vendas de filmes fotográficos e 85% das vendas de câmeras dosEstados Unidos. Para proteger o lucrativo negócio dos filmes, os gestores da empresa resolveram não levar adiante o projeto da máquina digital e, bem, o restante da história todos nós conhecemos. 

Sobre o fracasso da Kodac, muito se especulou sobre a falta de inovação (desafio o leitor a encontrar uma única matéria que diga o contrário!), uma vez que a empresa decidiu apostar exclusivamente nos filmes fotográficos, deixando espaço aberto para outras companhias explorarem o novo mercado criado pelas câmeras digitais. Teria mesmo faltado inovação à Kodak? Voltarei a este ponto, mas antes vamos ver o que a educação tem a ver com tudo isso.

Enfrentamos problemas na qualidade da educação de base, mas na educação superior o problema não é diferente. Graduei-me em Ciências Biológicas por uma universidade pública de São Paulo, um dos melhores cursos do Brasil segundo o "Guia do Estudante" e, mesmo assim, posso dizer que aprendi mais sobre educação, ciências e biologia nestes três últimos anos, depois de graduado, doque nos cinco anos dentro da universidade. Infelizmente, não pareço ser exceção. Em conversas com colegas da minha e de outras universidades, de São Paulo ao Rio Grande do Norte, constatei que isso é muito comum. São muito poucos os professores e as disciplinas que acrescentam algo de fundamental em nossa formação. Acredito que aprenderia mais, e em menos tempo, se estivesse em um grupo de colegas com interesses em comum, acesso à biblioteca e à internet, e ajuda de professores para montar um roteiro de estudos. No mínimo, meu percurso teria sido menos enfadonho. Talvez, em um sistema de aprendizado neste formato eu deixasse de obter um diploma, algo importante para a inserção no mercado de trabalho - embora algumas empresas americanas estejam atualmente realizando contratações baseadas mais em informações disponíveis em mídias virtuais dos candidatos, como blogs ou conta no Twitter, do que no currículo dos mesmos. Esta é uma consequência da falência da díade diploma-conhecimento, ou como disse Augusto de Franco, "O diploma é o reconhecimento do conhecimento ensinado, não necessariamente aprendido".

Voltando à pergunta em aberto do final do segundo parágrafo, acredito que a Kodak não faliu devido à falta de inovação, como muitos sustentam (afinal, a própria empresa foi responsável pela criação da máquina fotográfica digital), e sim devido ao que foi feito da criatividade e inovação que ali surgiram. Paralelos podem ser traçados com a educação. Apesar de contarmos com um sistema educacional obsoleto, existem exceções, que correspondem a equipes pedagógicas dedicadas a defender projetos educacionais inovadores (as nossas "máquinas fotográficas digitais"). Em muitos casos, estas equipes contam com apoio significativo por parte dos pais dos alunos da escola, e enfrentam uma série de dificuldades na tentativa de sobreviver em meio à burocracia dos modelos educacionais existentes. Para focar somente em exemplos potiguares, são referências de projetos educacionais inovadoras o Centro de Educação Integrada de Maracajaú,a Escola Estadual Hegésippo Reis e o projeto "Rede Potiguar de Escolas Leitoras". Este último, talvez um dos mais ousados e importantes projetos educacionais do Rio Grande do Norte desde o "De pés no chão também se aprende a ler", da época em que Djalma Maranhão era o prefeito de Natal e Moacyr de Góes o secretário de educação. Um projeto deste nível, com potencial para ser considerado referência internacional na formação de leitores (apenas "gestores Kodak" não saberiam o que fazer com um projeto desses nas mãos!), enfrenta problemas inadmissíveis, como ausência de professores nas salas de leitura e bibliotecas, realocação de professores readaptados nas salas de leitura e riscos de descontinuidade. Tais dificuldades poderiam ser facilmente evitadas. Como vimos, alguns profissionais da educação criam, inovam, e trilham novos caminhos para a educação. Se fossem estimulados, poderiam ser muitos mais.